quinta-feira, 16 de julho de 2009

"Não aceita tá?"

B. Aboard!

Estive pensando aqui como seria se eu tivesse que deixar um depoimento pra mim mesma. É, eu sei, parece loucura minha... mas achei a idéia interessante e decidi levá-la adiante.

Bru, eu estive pensando bem no que poderia dizer pra você, no que você merecia ouvir de mim, e saber de nós. Desde pequena via calada tua luta diária, viver na jaula dos leões nunca foi fácil. Te via chorar escondida e te falava no mais íntimo do teu ser que aquilo ia passar, que pensasse no amor que você tinha pelos seus pais, e que isso seria suficiente para mantê-la bem, pelo menos por enquanto. Te via espernear, chorar, sorrir... Estive presente na tua primeira queda na bicicleta rosa de rodinhas e nas dancinhas que passávamos tardes ensaiando e depois, apresentávamos para a família. Te vi perder o chão quando teus pais deixaram de ser um, e começaram a ser dois. Papai separado de Mamãe. Ouvia teus pensamentos, mesmo sem sentir que estava ali ouvindo, te ouvi dizer que queria morrer, que não iria conseguir viver assim, que sua vida havia acabado. Bru, eu senti tanta dor por ti, tanta... Tentei fazer com que você olhasse o lado bom das coisas, mas entendia quando me respondia: QUE LADO É ESSE? Te segurei quando soubestes que tua mamãe havia depois do primeiro ou segundo ano separada, seguir em frente e arranjar um namorado. Tive que obter mais forças quando soubeste sobre tua mãe, nem tanto com teu pai... Talvez por ser mas ligada a ela. Senti teu interior fumaçar em raiva ao ver aquele homem e te ouvi gritar no teu íntimo: VOCÊ N-Ã-O É O MEU PAI! Eu sei que você me ouvia mais durante a noite, quando o silêncio pairava e ninguém podia te ver chorando debaixo das cobertas, e passei noites e noites perdurando, te dando conselhos... afinal Bru, tua mãe tinha que ser feliz, e teu pai também. Ah... me lembro dos risos também que teus amigos do colégio de proporcionavam... Como se chamava mesmo o lugar? Colégio Destaque, isso! Lembro-me também que com esses risos vieram muitas lágrimas também, e que você pedia a Deus pra não ser tão excluída pela maioria, pra não ser gordinha porquê aquilo causava dor, pedia pra aquele menininho te olhar de outro jeito, e chorava quando as meninas más te falavam coisas. Bruna, eu estava lá. Se lembra? Eu te segurei. Te vi virar mocinha e morrer de vergonha de uma coisa tão natural. Sempre me senti mais forte diante das coisas que te aconteciam e sempre me senti capaz de te segurar em tudo, algumas vezes mais fortemente do que outras... fiquei muito, mais muito entristecida mesmo quando vi nossa bisavó falecer, e me lembro que atendestes a ligação do hospital e inocente não entendeste o que o médico quis dizer quando pediu a presença da família no hospital... mas devo te adimitir Bru, quando eu soube que teu avô estava com câncer, senti uma facada dentro de mim tão forte, e tive que disfarçar com todas as minhas forças essa dor, não queria que você me sentisse assim, queria te segurar! Me matava cada vez mais por dentro a cada grito de dor dele, a cada injeção de morfina, a cada lágrima da minha família. Pedi a Deus por nós duas, tanto, tanto... Até que naquele dia... já depois do vovô João ter se internado e ficado na UTI, respirando por aparelhos, depois de várias pessoas te dizerem: Bruna... ele está perto de ir... se prepare, peça a Deus por ele... (me lembro até que te forcei a acreditar nisso, mas você nunca me ouviu)... e naquela manhã do dia 15 de janeiro, a mais ou menos 6 anos atrás, sua tia avó te acorda e fala que vovô tinha passado muito mal, com medo de te falar a verdade talvez, e depois te uma breve respirada, ela te fala a verdade. Bruna, te senti cair sem parar, num abismo sem fim, como uma queda que não termina. Você era apenas uma menina Bru, e eu me sentia tão mal por você, tão nova, já passando por tanto... Será que eu iria ter que te amadurecer mais cedo? O QUE EU FAÇO COM VOCÊ? Sentia lágrimas escorrendo no meu rosto, e no teu... muito mais. Passaram anos para que essa dor adormecesse, nem que um pouco. Perdeste um tio, uma prima... e a vida foi te levando pessoas. Mudaste de colégio, e no início se sentiste deslocada, me lembro. Mas te asseguro que foi a época em que te senti mais feliz. Apesar de ainda não se sentir confortável consigo mesma. Foi mais ou menos depois que teu vovô se foi que senti meu mundo ficar escuro, e não entendia o que ela aquilo. Foi ali que eu percebi, você estava se entristecendo com mais frequência. Saistes do colégio que tanto amava, e fosse pra um maior, mais caro e mais preparado para te preparar. Ali fostes mais bombardeada do que qualquer um possa imaginar. Sentia os olhares atravessados em mim também! Acredite! Pessoas falando mal de você, te julgando e chamando das piores coisas, foi ali que aquela escuridão aumentou. Sua mãe lhe colocou numa psicóloga pois estava estranhando o fato que todas as vezes que você estava no colégio seu organismo adoecia, fazendo assim com que você fosse pra casa. Me lembro até do nome: Psicossomatismo. Fostes para a psicóloga, e foi com as sessões que eu entendi o que era aquela escuridão. Você foi envolvida pelo monstro da depressão. Eu imaginava: COMO? Uma menina tão alegre. Arranjaste até um namoradinho naquele ano... mas foi outra tristeza. O fim do namoro de vocês a fez piorar. Passaram-se os anos, você engordou mais com a depressão, procurava na comida algo que não encontrava nas pessoas. Em 2006 fostes pra a Disney, me lembro que te via sorrindo tanto tanto! Fiquei contente demais por te ver daquele jeito! No segundo ano científico viu seu mundo desabar, mais ainda do que antes, e eu não esperava por aquilo. Fiquei tão chocada e abalada quanto você. TEUS AMIGOS? FAZENDO AQUILO? Eu entrei em desespero, te vi só, excluída e isolada, apenas com a depressão do teu lado, te assombrando, e chamei de novo e de novo por Ele, eu gritava: DEUS, OLHA POR ELA, MEU DEUS PRECISO DE TI! E parecia que não havia respostas. Me sentia presa, inútil. Fostes para o terceiro ano científico, novas pessoas em sua vida, nenhuma era qualificada como MELHORES AMIGOS, mas te faziam bem. Eu te gritava: ESTUDA BRUNA, EU SEI, ESTÁS SEM AMIGOS, MAS PROVA PRA MIM, PRA TUA FAMÍLIA, E PRA AQUELES VERMES QUE VOCÊ TEM VALOR, PASSA NESSE VESTIBULAR! NINGUÉM MERECE TANTO QUANTO VOCÊ! E gritava o mais alto que eu podia. Te fazia estudar... lutar pelo teu sonho. Aquelas pessoas que um dia chamamos de teus amigos, falavam de ti ainda, mas te fiz esquecer isso. "FOQUE-SE NO SEU ESTUDO!" Te falei até pra fazer dieta! Te vi ficar linda aos poucos, viajar com os amigos, se divertir, mas ainda sentia que estava escuro. E não deu em outra, caiste de novo e de novo e de novo na depressão... era agoniante não ter controle sobre isso. Queria clarear teu mundo, afastar isso de ti. Mas era tão difícil... O ano acabou, e 2009 começou. Conheceste pessoas novas, até se apaixonou perdidamente, e tudo pareceu melhorar. No final de janeiro a notícia: DOS 3 VESTIBULARES, PASSASTE EM TODOS! Eu gritava e pulava tanto! TINHA DADO CERTO, TUDO AQUILO VALEU A PENA!
Fizeste 18 anos e eu nem pude crer, me senti tão velha te acompanhando por todo esse tempo! Viraste uma mulher! Dirigindo, falando sobre testes, escrevendo... êta orgulho que eu via tua mãe sentir! Perdeste teu outro avô esse ano, e já te senti mais forte. Acho que percebestes Deus em ti não é? Tua mãe casou e me encheu de orgulho te ver feliz por ela. Hoje tais aí, essa menina... ainda sinto que possui aquele monstrinho lá... mas lembra Bru, eu não vou te abandonar nunca. E enquanto Deus me aconselhar, passarei os ensinamentos Dele pra ti, e acredite, NÓS NUNCA ESTAMOS SÓS.
Eu acho que o que estou tentando te dizer é: MUITO obrigada por ter passado essa vida me ouvindo, ter aguentado tudo isso que passaste, ter dado a volta por cima, provado ser quem és, por ter ajudado os outros, por ter colado em DEUS e agradecido por tudo em todos os momentos. Obrigada por ser tão forte, por ter respeito e ser educada. Eu agradeço por nos representar assim. Acredite, você é mais forte do que imagina. Aprendi a te amar.
E nunca esqueça, se um dia a tristeza bater, como tá batendo agora, ouve aquela vozinha que insiste em falar na tua mente, lembra que sou eu te chamando... lembra que tô trabalhando junto a Deus na tua vida, e que JAMAIS estará só.

Eu te amo. Obrigada.






Bruna.

1 Comment:

  1. Unknown said...
    Este comentário foi removido pelo autor.

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